Ah, solidão!
Todas as noites ela chega de mansinho
e me abraça devagarzinho.
Ela é tão calada, tão encabulada,
fica a noite inteira do meu lado sentada.
Às vezes eu a convido para ver um filme,
beliscar algo na cozinha, comer qualquer coisa,
sei lá, o que sobrou do jantar.
Mas ela não abre a boca nem para comer.
Ela não sente vontade de nada.
Só quer estar ao meu lado a me olhar, tão compenetrada!
Eu sempre conto tudo de mim para ela.
Conto todos meus segredos, meus anseios,
minhas dúvidas, minhas dores e decepções.
Mas vou confessar:
Ela não me ajuda em nenhuma questão, em nada opina.
Diz que já sou uma mulher. E ela não passa de uma menina.
Uma menina triste, é o que nela existe.
E acaba me transformando numa mulher triste também
e nisso ela insiste!
Quero manda-la embora, isso mesmo. Joga-la fora.
Manda-la pra bem longe ... mas tenho dó.
Ninguém nasceu pra viver só.
Ah, solidão!
Um dia, eu hei de ter uma boa companhia.
Que me ajude, que converse comigo todos os dias.
Ah, bem isso. Uma companhia para nós duas.
Porque de tanto você ter estado comigo
na fase em que eu não tinha ninguém;
fingir que nem lhe conheço, quando eu estiver com alguém,
seria de uma tremenda covardia.
Vamos viver juntos eu, meu novo amor e você, numa perfeita harmonia.
Até esse dia chegar, prossigamos
... lendo bons livros até lá.
É assim que tem sido...
Ainda bem, que temos os livros!

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